O vendedor ambulante Carlos Augusto Muniz, de aproximadamente 30 anos, foi morto por um policial militar durante a Operação Delegada, no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, na tarde desta quinta-feira (18). O programa é conhecido como “bico oficial” de PMs e foi criado na gestão do prefeito Gilberto Kassab para diminuir o número de bicos clandestinos.
Imagens exclusivas obtidas pelo Jornal da Record mostram o momento em o PM atira na cabeça de Carlos Augusto Muniz, que tentou tirar o spray de pimenta da mão do oficial. A vÃtima morreu antes de chegar ao Hospital das ClÃnicas, para onde foi levado pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Ao R7, o Comando-Geral da PolÃcia Militar informou que as “imagens estão sendo analisadas neste momento, de maneira detalhada, para evitar qualquer tipo de injustiça” e, “caso seja compreendido que o PM tenha sido imprudente, ele será autuado” ainda na noite desta quinta-feira.
Os vendedores da região se revoltaram com a situação e bloquearam algumas ruas colocando fogo em lixo e apedrejando um ônibus. O policiamento reagiu com bombas de efeito moral e conseguiu controlar a situação. Dois helicópteros Ãguia, do Grupamento Aéreo da Policia Militar, e o Batalhão de Choque foram para o local. Até à s 21h, não havia informações de presos.
NOVO VÃDEOÂ DEIXA AINDA MAIS EVIDENTE O TOTAL DESPREPARO DA PM
As imagens divulgadas pela TV Record são impressionantes e deixam pouco espaço para dúvidas. Elas flagram o momento em que, na quinta-feira (18), um policial militar atira e mata um vendedor ambulante, na zona oeste de São Paulo. Fica documentado um ato de violência brutal e inaceitável.
O vÃdeo mostra um agente com um tubo de gás pimenta na mão esquerda e uma pistola na direita. Só isso já seria condenável, pois não se tratava de confronto com criminosos armados, mas de ação policial com o objetivo de reprimir o comércio ilegal na região.
Como logo ficou claro, a temeridade do gesto não era abstrata. Em meio a uma discussão, o piauiense Carlos Augusto Muniz Braga, 30, agarrou a mão esquerda do policial, no que parecia uma tentativa de arrancar-lhe o spray. A reação foi absurda: o agente disparou contra o rosto do ambulante.
Do ponto de vista institucional, a situação ficou ainda pior. Divulgando informações equÃvocas, a PolÃcia Militar mostrava-se, num primeiro momento, disposta a tentar minimizar –quem sabe até encobertar– o homicÃdio. Confrontada com as imagens, no entanto, viu-se obrigada a admitir a gravidade das circunstâncias.
Mais tarde, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que o policial foi preso em flagrante. Ainda seria aberto um inquérito militar para apurar o caso, e a PolÃcia Civil também o investigaria.
É o mÃnimo, mas convém lembrar que os resultados desses procedimentos elementares, em geral conduzidos intramuros, nem sempre surgem com a desejável presteza e o necessário rigor.
O episódio reitera o diagnóstico de que a atuação da polÃcia no Brasil permanece marcada por uma cultura de arbitrariedade, violência e despreparo incompatÃveis com os padrões da democracia.
Segundo o 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as polÃcias no Brasil matam, em média, quatro vezes mais civis do que as norte-americanas –e 125 vezes mais do que a polÃcia do Reino Unido.
É fato que prospera por aqui um tipo de criminalidade armada, em geral ligada ao narcotráfico, que muitas vezes torna inevitável o confronto. Isso, no entanto, não explica as rotineiras mortes de cidadãos desarmados.
Passa da hora de as autoridades brasileiras enfrentarem a questão com a urgência e a seriedade que ela exige. Seria um retrocesso atroz permitir que casos como o registrado em São Paulo possam terminar impunes.