BELÉM – Nove pessoas foram mortas, seis delas com sinais de execução, em seis bairros de Belém na noite de anteontem, pouco após o assassinato do policial militar Antônio Marcos da Silva Figueiredo, baleado quando chegava em casa, no bairro do Guamá. Momentos após o crime contra o cabo, começaram a circular informações nas redes sociais de que haveria uma chacina na região. Diversos áudios de supostos tiros foram publicados na internet e compartilhados entre moradores da capital, criando clima de pânico. Uma mensagem de voz chegou a ser compartilhada por meio do aplicativo WhatsApp em que uma pessoa pedia para que moradores do Guamá não saÃssem de casa, pois um policial havia sido morto e seria feita uma “limpeza†na área.
O sargento Rossicley Silva, da Ronda Tática Metropolitana (Rotam) e presidente da Associação dos Praças do Estado do Pará, publicou no Facebook uma mensagem que dizia “Convocação geral! Amigos, o nosso irmãozinho PET (cabo Figueiredo) acabou de ser assassinado no Guamá. Estou indo. Espero contar com o máximo de amigos. Vamos dar a respostaâ€. Ontem, após a chacina, o sargento disse que as mortes ocorreram devido a confrontos entre facções criminosas e milÃcias, que estariam aproveitando o clima tenso para acertarem contas. O sargento alegou que sua publicação foi feita num momento em que ele estava abalado.
A Secretaria de Segurança Pública admitiu que, após a morte do cabo, foi feita uma megaoperação em busca dos três suspeitos de terem matado o policial, mas não assumiu nenhuma das nove mortes. O cabo Figueiredo respondia a um processo na Justiça comum por homicÃdio e estava afastado por problemas de saúde.
Nem todas as vÃtimas da chacina haviam sido identificadas até a noite de ontem. Entre os mortos, estavam Jefferson Cabral dos Reis, Bruno Gemaque, cobrador de van do transporte alternativo, e Eduardo Felipe Galúcio, adolescente de 16 anos que trabalhava na Ceasa-PA. A namorada do jovem, Leonive Vieira, contou que estava com o rapaz quando ele foi assassinado:
— A gente foi na casa da avó dele, e fomos abordados por várias pessoas encapuzadas. Mandaram eu soltar a mão dele e ir embora. Eu comecei a agarrá-lo, e me puxaram pelo braço. Foi na hora que aconteceu, que o mataram.
O bombeiro Valmir Fonseca também reconheceu o corpo do filho adotivo, Alex dos Santos Viana, que foi assassinado no bairro do Sideral:
— Eu me espantei com o disparo. Foram para mais de 30 tiros. Os homens que fizeram isso passaram de moto.
A famÃlia de Jefferson Cabral dos Reis, de 27 anos, contou que o jovem trabalhava em uma loja de motos que funcionava dentro de um supermercado da capital e nunca teve envolvimento com drogas.
— Ele era um rapaz brincalhão, trabalhador, gostava de festa, nunca soubemos de envolvimento com drogas — disse um dos tios da vÃtima: — Não sabemos quantos tiros ele levou, mas testemunhas disseram que eram pessoas de moto encapuzadas e tinha um carro também. Os homens teriam chegado atirando desde longe.
Ontem à tarde, os seis bairros onde houve mortes ainda estavam com clima tenso. Pessoas eram revistadas nas ruas, e os ônibus só saÃam com a presença da polÃcia. Helicópteros passaram a tarde fazendo buscas por mais suspeitos. Vários bairros ficaram vazios, assim como as salas de aula da Universidade Federal do Pará e de quatro faculdades particulares. Numa entrevista coletiva, o titular da Secretaria de Segurança do Pará, Luiz Fernandes Rocha, disse que a população poderia sair de casa tranquila.
Chega a 20 mortes, 10 delas confirmadas pela secretaria de Segurança Pública do Estado do Pará, e as demais ainda sem confirmação, mas denunciadas nas redes sociais do paÃs, na chacina que teve lugar em bairros na periferia da capital paraense, durante a madrugada desta quarta-feira. Este número pode chegar a 35, segundo relatos não oficiais. Os nomes das vÃtimas ainda não foram confirmados. Segundo o secretário de Segurança Pública do estado, Luiz Fernandes, o número de mortos seria de nove, no entanto, em nota oficial na Agência de NotÃcias do Estado, foram admitidos 10 assassinatos, entre eles do de um policial militar da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (ROTAM), que teria originado uma revanche por parte dos colegas de farda.
Após o assassinato do cabo Antônio Marcos da Silva Figueiredo, de 43 anos, perto da rua em que morava, uma série de mensagens foi trocada entre seus colegas, nas redes sociais, em uma espécie de convocação ao crime. A investigação, a cargo da Divisão de HomicÃdios da PolÃcia Civil, aponta que as mortes ocorreram em seis bairros da capital paraense.
– Recebemos inúmeras denúncias do envolvimento de PMs, de milicianos, apuramos inúmeras denúncias sobre a situação de violência em vários bairros de Belém, e estamos preocupados porque temos visto essa violência crescer – disse a presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Pará (OAB/PA), Luana Tomás, em entrevista ao programa Tarde Nacional, da Rádio Nacional da Amazônia.
Luana considera que “a partir do que ocorreu, há uma crescente boataria ‘muito perigosa para o estado democrático de direito†nas redes sociais, e alerta que “compartilhar informação sem fundamento aumenta o clima de terror, de medo e a incitação de ódio, e pode ser caracterizado como crimeâ€.
A Comissão foi aos bairros, colher depoimentos sobre os fatos, mas ainda não revelou a identidade das vÃtimas. Segundo Tomás, sabe-se que, além dos mortos, há pessoas feridas, cujos nomes não foram divulgados. Denúncias em forma de gravações de vÃdeo e áudios publicadas nas redes sociais estão em fase de análise na Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA.
Violência deflagrada
Segundo divulgou o site Fatos PolÃticos, hospedado no portal UOL, “suspeita-se que o policial era ligado à uma milÃcia no bairro do Guamá e ficou conhecido pelos “esculachos†e execuções de muitos jovens nas periferias da cidade, fato que teria feito sua morte ser amplamente comemorada em diversos bairros periféricos. Os números ainda são pouco precisos mas um jornal local aponta pelo menos 20 mortos e o Governo do Estado, chefiado por Simão Jatene (PSDB), já reconheceu oito das mortes esta manhã. O Centro de PerÃcias CientÃficas Renato Chaves (CPCRC) registrou quatro homicÃdios no bairro da Terra Firme e um homicÃdio nos bairros do Marco, Guamá, Jurunas e Sideral, respectivamente. Todos esses são bairros pobres da capital paraense. No bairro da Terra Firme, o cobrador de ônibus Bruno de Souza Gemaque, de 20 anos, foi assassinado na rua São Domingos. Na passagem BrasÃlia, a vÃtima foi um adolescente de 16 anos e, na passagem Gabriel Pimenta, Jefferson Cabral Reis, de 27 anos, também foi executado friamente.
“A ROTAM anunciou que ‘a caça começou’ em sua página oficial nas redes sociais e o sargento Rossicley Silva chegou a convocar ‘o máximo de amigos para dar resposta’ através de seu Twitter pessoal. Um arquivo de áudio revela policial afirmando que a ordem era fazer uma ‘limpeza na área’. Quanto à isso o Comando Geral da PolÃcia Militar afirmou que vai ‘apurar eventuais denúncias’ e submeter à ‘Corregedoria’, órgão famoso por raramente punir alguém. Alguns vÃdeos que rodaram o WhatsApp (…) são atribuÃdos por seus autores à atuação da polÃcia nessa madrugada. Arquivos de áudio também mostram um Policial Militar anunciando os bairros onde haveriam chacinas e alguns relatos de populares sobre o que está se passando no bairro Terra Firme, assim como os possÃveis motivos das execuções em massa.
“Mataram um policial nosso e vai ter uma limpeza na áreaâ€, Policial Militar anuncia os bairros onde ocorrerão as chacinas
“A cabeça desse cara da ROTAM tava a prêmio, ele matou muita genteâ€, jovem comenta sobre retaliação e a ordem dos oficiais para matar.
“Muitos corpos no chãoâ€, mulher comenta chacina na Terra Firme, um dos bairros com conflito mais intenso.
Ainda segundo o site, “segundo comentário feito pela própria ROTAM na postagem em que afirma que a ‘caça começou’, os mortos já são 35 e os municÃpios de Ananindeua, Marituba, Santa Izabel e Castanhal também estão na mira da corporação. Contraditoriamente, esse desastre na segurança pública paraense acontece simultaneamente ao 13º Encontro da ONU sobre Prevenção ao Crime e Justiça, sediado em Belém nos dias 03 e 04 de novembroâ€.