A doméstica Terezinha Maria de Jesus, de 40 anos, diz não ter dúvida de que foi um policial militar do Batalhão de Choque que matou seu filho, Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos. Em entrevista ao G1, ela afirma ainda que foi ameaçada pelo mesmo policial ao cobrar o crime.
O garoto foi baleado na porta de casa e morreu na hora no fim da tarde desta quinta-feira (2), no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. A Divisão de HomicÃdios da PolÃcia Civil investiga a autoria do disparo.
“Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’â€, contou.
Terezinha disse que estava sentada na sala de casa, assistindo televisão quando viu o filho ser morto. “Ele estava sentado no sofá comigo. Foi questão de segundos. Ele saiu e sentou no batente da porta. Teve um estrondo e, quando olhei, parte do crânio do meu filho estava na sala e ele caÃdo lá embaixo mortoâ€, relembrou.
Sonho de ser bombeiro
Revoltada e abalada, Terezinha, mãe de outros quatro filhos, repetiu reiteradas vezes o sonho de Eduardo: ser bombeiro.
“Tiraram o sonho do meu filho. Tiraram todas as chances dele. Eu fazia de tudo para ele ter um futuro bom. Aà vem a polÃcia e acaba com tudoâ€, lamentou. “Ele sempre falava que queria ser bombeiro. Ele estudava o dia inteiro, participava de projeto na escola, só tirava notas boas. Por que fizeram isso com meu filho?â€, questionava sem parar.
Revolta na comunidade e homenagem
Um vÃdeo postado na internet (veja na reportagem abaixo) mostra moradores revoltados com PMs, chamados de “covardes” e “assassinos”. Eduardo de Jesus Ferreira é a quarta vÃtima de confrontos entre polÃcia e criminosos em 24 horas.
Segundo a Coordenadoria de PolÃcia Pacificadora, policiais do Batalhão de PolÃcia de Choque (BPCHoque) foram recebidos a tiros por criminosos na comunidade do Areal. “Houve confronto e um menor foi baleado”, informa o texto.
Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado, e as armas dos policiais serão apreendidas pela PolÃcia Civil. A Divisão de HomicÃdios vai investigar o crime.
‘Não vamos recuar’, diz governador
O governador Luiz Fernando Pezão divulgou uma nota lamentando os episódios de violência no Rio. Ele se solidarizou com as famÃlias das vÃtimas, determinou empenho máximo à polÃcia nas investigações e disse que o estado não vai recuar diante da covardia de criminosos.
“As nossas forças de segurança vão continuar enfrentando a criminalidade. E o Estado também, se preciso, vai continuar cortando na própria carne para perseguir esse objetivo. Não vamos recuar diante da covardia de criminosos. Determinei empenho máximo à polÃcia nas investigações para que os culpados sejam punidos”, disse Pezão.
A repercussão do caso fez com que o Conjunto de Favelas do Alemão fosse um dos assuntos mais comentados na noite desta quinta-feira (2) no Twitter. O assunto aparecia na segunda posição do ranking nacional (trending topics) como #GuerraNoAlemão.
Mais baleados
Pelo menos outras duas pessoas foram atingidas por balas perdidas no Alemão desde a tarde desta quarta (1º) – uma mulher morreu e a filha dela ficou ferida. No total, além de Eduardo, outrasseis pessoas foram baleadas em dois dias – três morreram. Há cerca de 90 dias seguidos os moradores do Alemão convivem com intensos tiroteios.
Pela manhã, uma base da Unidade de PolÃcia Pacificadora (UPP), na Rua Canitá, foi atacada. Janelas da unidade, que funciona dentro de um contêiner, foram quebradas. Segundo o CPP, pessoas não identificadas também colocaram fogo em uma caçamba de lixo que fica ao lado da unidade. O fogo em um colchão chegou a atingir uma parte da base.
Bandeira vermelha
O Alemão foi classificado como uma área de bandeira vermelha, onde há resistência do tráfico e risco para a ação da polÃcia. Por isso, o COE foi acionado.
A nova classificação das UPPs foi publicada no Diário Oficial há duas semanas. As áreas de bandeira amarela são aquelas que ainda apresentam riscos, mas têm uma tendência de estabilização, e as de bandeira verde, onde o processo de pacificação é considerado estável.
Teleférico parado
O teleférico do Alemão vai parar por duas semanas a partir do dia 11 de abril. A paralisação é necessária para manutenções, mas poderia ser feita até o meio do ano. A Supervia, concessionária que opera o teleférico, decidiu antecipar a medida por causa da violência.
RIO – Um menino de 10 anos morreu ao ser baleado no fim da tarde desta quinta-feira, na comunidade do Areal, no Complexo do Alemão, durante confronto entre policiais militares e traficantes. Segundo informações do site do jornal “Extra”, Eduardo Ferreira Calei foi atingido por um tiro de fuzil na entrada da localidade conhecida como Beco da Sabino. De acordo com a Coordenadoria de PolÃcia Pacificadora (CPP), homens do Batalhão de Choque (BPCHoque) patrulhavam o local, quando foram recebidos a tiros por bandidos. Moradores acusam os policiais militares pelo crime. Foi a quarta morte na comunidade em pouco mais de 24 horas.
No inÃcio da noite, a Divisão de HomicÃdios (DH) chegou à comunidade para investigar o crime. As armas dos policiais envolvidos no confronto foram apreendidas pela PolÃcia Civil. O objetivo é saber se o tiro que atingiu a criança partiu de um dos agentes. Em nota, a CPP informou que um Inquérito Policial Militar foi instaurado para apurar a conduta dos PMs.
Logo depois da morte do menino, um vÃdeo que mostra o corpo dele ensanguentado, próximo a uma escadaria da comunidade, circulou pelas redes sociais. As cenas mostram ainda os policiais do Batalhão de Choque descendo as escadas sendo acusados de covardes por dois moradores.
DOIS CONFRONTOS NA QUARTA-FEIRA
Na quarta-feira, tiroteios terminaram com três mortos no Complexo do Alemão. Um dos confrontos aconteceu por volta de 20h30m, durante a troca de turno dos policiais da base avançada da UPP, na Rua Canitar. De acordo com a PM, o fogo cruzado começou quando cinco homens armados chegaram ao local atirando. Policiais relataram que um dos suspeitos, identificado como Mateus Gomes Lima, de 18 anos, ficou ferido durante a ação e chegou a ser levado para o HGV, mas não resistiu aos ferimentos. Uma arma calibre 9mm foi apreendida. Os outros integrantes do bando conseguiram fugir. O caso está sob a investigação da 22ª DP (Penha).
À tarde, Elizabeth Alves, de 41 anos, estava dentro de casa, na comunidade Alvorada, quando foi baleada. Ela chegou a ser levada para o HGV, mas morreu no local. Ela era porteira de uma creche na comunidade. A filha da vÃtima, uma adolescente de 14 anos, foi atingida no braço e atendida no mesmo hospital, sendo liberada em seguida.
Uma criança morreu, nesta quinta-feira (2), baleada no Complexo do Alemão, no Rio. O menino é a quarta vÃtima de confrontos entre a polÃcia e bandidos em pouco mais de 24 horas.
O vÃdeo acima mostra uma mulher gritando: “Covarde, covarde”, enquanto policiais caminham pelas escadarias. As pessoas ao redor estão desesperadas. No chão, um menino baleado.
Segundo testemunhas, o menino é Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, e morreu atingido por um tiro de fuzil.
A polÃcia diz que PMs do Batalhão de Choque patrulhavam a comunidade quando foram recebidos a tiros por bandidos e, no confronto, o menino foi atingido. O caso vai ser investigado pela Divisão de HomicÃdios e as armas dos policiais vão ser apreendidas. Nesta quinta, a PolÃcia Militar começou uma série de operações na região.
Moradores dizem que a intensa troca de tiros no Alemão já dura 90 dias. Na manhã desta quinta, uma base da Unidade de PolÃcia Pacificadora foi depredada. Tudo dentro do contêiner foi quebrado, como mostram fotos feitas por moradores. Ninguém ficou ferido.
Na noite de quarta-feira (1), bandidos também atiraram contra a delegacia que funciona na comunidade.
Um vÃdeo mostra o esforço dos vizinhos para tentar salvar a vida de Elisabeth Moura Francisco. Ela morreu, na quarta, depois de ser atingida dentro de casa, por uma bala perdida.