Ao tentar encontrar soluções para a violência em uma sociedade os especialistas tentam detectar padrões que possam ser revertidos, evitando o derramamento de sangue e as lesões a Direitos Fundamentais. Encontrados e modificados os padrões que são causa, espera-se que os efeitos sejam distintos.
No caso do Brasil, é consenso que há muita violência ligada à produção, comercialização e consumo de drogas. Esse é um padrão apontado por todo gestor de segurança pública. Uma verdade, mas apenas meia verdade – ou menos que isso.
Não é que a droga seja o inimigo em si, mas sua falta de regulamentação, que permite que os conflitos interpessoais em torno de sua estrutura econômica não possam ser mediados legalmente pelo Estado. Enquanto o vendedor de cerveja chama a polÃcia para lidar com o cliente que não paga a conta, o vendedor de drogas ilÃcitas se arma para resolver por conta própria a situação. No Brasil, morre-se mais por fazer parte do negócio das drogas do que por consumi-las.
Obviamente, morrem os participantes do varejo, quase sempre jovens das periferias, não os que faturam bilhões com a economia da droga (arriscaria dizer que esses vestem-se muito bem de paletó e gravata).
Nesse cenário, vale observar um dado quase sempre minimizado quando se analisa os quase 60 mil homicÃdios que produzimos anualmente em nosso paÃs: 93,8% dos assassinados e 93,9% dos encarcerados no Brasil são homens, segundo o último Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Essa maioria absoluta dos homens como autores e vÃtimas de violência não é pueril. Tão grave quanto evitarmos o controle e a regulamentação das drogas ilÃcitas no Brasil, criando uma ilegalidade impossÃvel até mesmo para drogas menos graves que o álcool (como a maconha), é o fato de nós, machos brasileiros, não sermos capazes de resolver conflitos interpessoais sem uso da violência.
Se todos os homens abandonassem o paÃs, terÃamos reduzida a violência letal em mais de 90%. Sim, o genocÃdio que nos envergonha e assombra é eminentemente macho.
Precisamos discutir novos modelos de masculinidade, onde o respeito, o perdão e a tolerância sejam possÃveis, sem gerar vergonha e redução da dignidade. Modificar essa causa teria impacto significativo nos trágicos efeitos da violência no Brasil.