Uma ação desarticulada da prefeitura e do governo do Estado na região da cracolândia transformou o centro de São Paulo numa praça de guerra nesta quarta-feira (29).
Policiais militares feriram viciados a bala, usuários de drogas ameaçaram pedestres com facas e pedaços de pau, apedrejaram ônibus e furtaram motoristas –tudo isso em meio a bombas de gás, barricadas de fogo, “guerra” de pedras e comerciantes correndo para fechar as portas.
Tudo começou pela manhã, quando a prefeitura colocou em operação uma nova ofensiva para acabar com a chamada “favelinha”, como é conhecido um conjunto de barracos dos viciados.
A administração Fernando Haddad (PT) disse aos dependentes que os barracos seriam desmontados e não mais poderiam ser reerguidos.
Já que a permanência nas ruas não seria mais tolerada, a única opção a eles seria aderir ao programa municipal para dependentes quÃmicos, que oferece um quarto de hotel, refeição e um emprego.
Essa ação seria acompanhada no mesmo dia de uma ofensiva das polÃcias Civil e Militar contra o tráfico, mas o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) disse não ter sido avisado pelo municÃpio.
A troca de responsabilidade ocorreu entre Haddad e o secretário estadual da Segurança, Alexandre de Moraes.
TIROS E FERIDOS
O primeiro confronto ocorreu por volta das 14h. Policiais militares à paisana que circulavam na região foram “descobertos” por um grupo de viciados, que se aproximou e tentou agredi-los.
Cercado, um dos policiais sacou a arma e fez alguns disparos. Um dos tiros acertou o chão, ricocheteou e atingiu a perna de um usuário. Outro dependente foi atingido de raspão no pescoço pelos estilhaços –nenhum corre risco de morte. Segundo o governo do Estado, um PM foi agredido com barra de ferro.
A usuária de drogas Daniela de Oliveira, 25, disse que estava próxima quando ocorreu a confusão. “Eles [viciados] tumultuaram pra cima dos policiais, aà os policiais deram um tiro para cima. Agora acho que eles [usuários] vão tumultuar por causa desses tiros”, disse.
E os usuários de fato “tumultuaram” em seguida.
A partir do meio da tarde, já sem um local fixo para dormir, eles se espalharam pelo centro, em confronto com PMs e integrantes da Guarda Civil Metropolitana, ligada à Prefeitura de São Paulo.
Carrinhos, barracas, mochilas, antes confinados a uma esquina, se espalharam por diferentes ruas.
Próximo ao terminal Princesa Isabel, um ônibus foi depredado. “Chegaram jogando pedra. Pegaram minha bolsa e a do cobrador. Levaram o dinheiro e fugiram”, disse a motorista do coletivo Netanias Lopes, 58.
Nem mesmo uma agente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) foi poupada no tumulto. “Enfiaram a mão dentro do carro e levaram meu celular novo. Vi um monte de criança com pedra, mas não consegui encontrá-los depois”, disse a agente da CET Neuza Alves Martins. Ela abandonou o carro oficial e saiu correndo atrás dos jovens por diversos quarteirões, mas o esforço foi em vão. “Já desligaram [o celular]”, disse desanimada após tentar ligar para o aparelho roubado utilizando outro telefone.
A comerciante Eliana Oda, 53, teve que fechar os portões da farmácia onde trabalha, na avenida Duque de Caxias, quando um grupo de cerca de dez jovens passaram correndo e ameaçando pedestres com pedras na mão. “Se essa confusão fosse resolver algo, eu até entenderia. Mas eu já vi isso muitas vezes aqui e nada muda. Amanhã vai estar igual como antes.”
A situação se acalmou somente no inÃcio da noite, por volta das 19h30.
A operação da prefeitura para a retirada de barracasde usuários de drogas na região da cracolândia, no centro de São Paulo, acabou em tumulto no inÃcio da tarde desta quarta-feira (29). Houve tiros e corre-corre, e ao menos duas pessoas foram feridas.
Por volta das 17h30, a situação voltou a ficar tensa na região. Usuários fizeram uma barricada de fogo e atirou pedras contra policiais militares, que responderam com bombas de gás. A avenida Rio Branco foi fechada e ao menos um motorista chegou a ser roubado, fugindo logo em seguida pela contramão.
Durante a confusão, um grupo de pessoas tentou incendiar um ônibus. Ele chegou a ser esvaziado, mas a polÃcia impediu o ataque.
Já próximo ao terminal Princesa Isabel um outro coletivo foi depredado. “Chegaram jogando pedra. Pegaram minha bolsa e a do cobrador. Levaram o dinheiro e fugiram”, disse a motorista de ônibus Netanias Lopes, 58.
Mais cedo, por volta das 14h, policiais militares à paisana que circulavam na região foram “descobertos” por um grupo de viciados, que se aproximou e tentou agredir os militares. Cercado, um dos policiais sacou a arma e fez alguns disparos. Um dos tiros acertou o chão, ricocheteou e atingiu a perna de um usuário.
A usuária Daniela Batista de Oliveira, 25, disse que estava próxima quando ocorreu a confusão. “Eles [viciados] tumultuaram pra cima dos policiais, aà os policiais deram um tiro para cima, depois deram um tiro no pescoço do Gordão e outro acertou a perna do outro homem. Agora acho que eles [usuários] vão tumultuar por causa desses tiros”, disse.
Durante a confusão, presenciada pelaFolha, outro viciado foi baleado por um tiro de raspão no pescoço. O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, tinha deixado a região há poucos minutos. Ele afirmou que o governo estadual não sabia que a operação aconteceria nesta quarta.
Em nota, a PM afirmou que dois policiais que faziam o apoio à operação foram agredidos por vários moradores de rua, sendo um dos PMs atingido por uma barra de ferro na cabeça. Ainda de acordo com a corporação, um dos policiais fez um único disparo, em direção ao chão, para conter os agressores, sendo que os estilhaços atingiram as vÃtimas.
A polÃcia afirmou que os ferimentos dos dois moradores de rua foram superficiais e apenas um deles precisou de atendimento médico. Um dos policiais também foi encaminhado ao hospital e permanece internado. Um dos PMs envolvidos na ocorrência estava prestando depoimento à PolÃcia Civil no final da tarde.
A operação da prefeitura teve inÃcio ainda pela manhã, com o desmonte do conjunto de barracas montadas por usuários, que ficou conhecido como “favelinha”. Segundo o prefeito Fernando Haddad (PT), a iniciativa visa combater o tráfico de drogas, que seria responsável por cerca de 30% das barracas do local.
Sem os abrigos, os usuários de drogas que costumam ficar concentrados entre a rua Helvetia e a alameda Cleveland, passaram a ficar espalhados, em grandes aglomerações, por várias vias da região, principalmente, na alameda Dino Bueno.
Segundo o prefeito, a ideia da operação é convencer esses usuários a participarem do programa “De Braços Abertos”, que oferece tratamento, hotel e trabalho aos usuários. Muitos viciados resistem a participar do programa por discordarem de regras impostas pela prefeitura, como horários a serem cumpridos.
Durante a visita de Haddad ao local, alguns dependentes que participam do programa protestaram por causas de mudanças no projeto. Eles são contrários a remoção para outros hotéis.
PRAÇA
Com a remoção da “favelinha” na região da cracolândia, funcionários da prefeitura fizeram a remoção dos tapumes que cercavam uma praça, construÃda a poucos metros da praça Julio Prestes. Ela teve a abertura adiada por conta da concentração de usuários de drogas.
Em entrevista à Folha, realizada nem março, a secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, disse que a administração estava “segurando” a entrega do equipamento, que tem bancos de concreto e espaço para plantas, por causa do avanço do fluxo.
A secretária disse na ocasião, que a construção da praça é uma medida para tentar uma retomada pacÃfica e ordenada do local. “A ideia é fazer uma ocupação boa, para socializar, dar dignidade, com colocação de bancos para as pessoas se sentarem e de sombras”, disse.
A região da cracolândia, no centro de São Paulo, voltou a registrar confrontos entre usuários de drogas e policiais militares no inÃcio da noite desta quarta-feira (29). Ônibus foram depredados, motoristas assaltados e pedestres ameaçados. Comércios da região também fecharam as portas.
O novo tumulto começou por volta das 17h30, quando dependentes fizeram uma barricada de fogo entre a rua Helvétia e a alameda Dino Bueno, e atiraram pedras contra policiais militares, que responderam com bombas de gás. Em meio à correria, a avenida Rio Branco foi fechada e ao menos um motorista chegou a ser roubado, fugindo logo em seguida pela contramão.
Um grupo de pessoas tentou incendiar um ônibus, que foi esvaziado, mas a polÃcia impediu o ataque. Já próximo ao terminal Princesa Isabel um outro coletivo foi depredado. “Chegaram jogando pedra. Pegaram minha bolsa e a do cobrador. Levaram o dinheiro e fugiram”, disse a motorista de ônibus Netanias Lopes, 58.
Por volta das 18h20, a avenida Duque de Caxias também foi fechada e uma barricada de fogo foi montada. Alguns usuários de drogas ameaçavam pessoas pelas ruas da região, armados com facas e paus. Um grupo aparentando ser menor de idade chegou a roubar um agente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
“Enfiaram a mão dentro do carro e levaram meu celular novo. Vi um monte de criança com pedra, mas não consegui encontrá-los depois”, diz a agente da CET Neuza Alves Martins. Ela abandonou o carro oficial e saiu correndo atrás dos jovens por diversos quarteirões, mas o esforço foi em vão. “Já desligaram [o celular]”, disse desanimada após tentar ligar para o aparelho roubado utilizando outro telefone.
A comerciante Eliana Oda, 53, teve que fechar os portões da farmácia onde trabalha, na avenida Duque de Caxias, quando um grupo de cerca de dez jovens passaram correndo e ameaçando pedestres com pedras na mão. “Se essa confusão fosse resolver algo, eu até entenderia. Mas eu já vi isso muitas vezes aqui e nada muda. Amanhã vai estar igual como antes.”
Por toda a região era possÃvel sentir o cheiro das bombas de gás utilizadas pela polÃcia. Às 19h, as rua Helvétia e a alameda Dino Bueno estavam completamente interditadas.
Alguns usuários invadiram os comércios da região, entre eles um mercado Extra, localizado na alameda Barão de Limeira. Um segurança saiu correndo atrás de duas mulheres que tentaram furtar um carrinho de compras.
Editoria de arte/Folhapress |
O comandante geral da Guarda Civil Metropolitana, Gilson Menezes, afirmou que a partir de agora serão apreendidos barracas e carrinhos que ficarem na cracolândia. “Há uma diferença entre o carrinho usado para a reciclagem e o outro tipo, maior, que acaba servindo para esconder drogas e armas”, disse. Alguns guardas afirmaram que nos carrinhos foram encontrados e apreendidos vários produtos aparentemente roubados.
Segundo Menezes, os usuários de drogas não serão retirados à força do local.
Com a situação mais calma, por volta das 19h30, o secretário municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, voltou a cracolândia. Usuários de crack reclamaram ao secretário que até mesmo suas galochas foram levadas pelos agentes dos prefeitura durante a limpeza no local. Suplicy então cobrou a GCM, que argumentou que os usuários não estavam ao lado de seus pertences durante a ação.
A confusão na região acontece após a prefeitura fazer uma operação paradesmontar o conjunto de barracas montadas por usuários, que ficou conhecido como “favelinha”. Segundo o prefeito Fernando Haddad (PT), a iniciativa visa combater o tráfico de drogas, que seria responsável por cerca de 30% das barracas do local.
Segundo o prefeito, a ideia da operação é convencer esses usuários a participarem do programa “De Braços Abertos”, que oferece tratamento, hotel e trabalho aos usuários. Muitos viciados resistem a participar do programa por discordarem de regras impostas pela prefeitura, como horários a serem cumpridos.
TIROS
Mais cedo já havia sido registrado um outro confronto na região, que terminou com duas pessoas baleadas e um PM agredido.
Por volta das 14h, policiais militares à paisana que circulavam na região foram “descobertos” por um grupo de viciados, que se aproximou e tentou agredir os militares. Cercado, um dos policiais sacou a arma e fez alguns disparos. Um dos tiros acertou o chão, ricocheteou e atingiu a perna de um usuário.
A usuária Daniela Batista de Oliveira, 25, disse que estava próxima do local quando ocorreu a confusão. “Eles [viciados] tumultuaram pra cima dos policiais, aà os policiais deram um tiro para cima, depois deram um tiro no pescoço do Gordão e outro acertou a perna do outro homem. Agora acho que eles [usuários] vão tumultuar por causa desses tiros”, disse.
Durante a confusão, presenciada pela Folha, outro viciado foi baleado por um tiro de raspão no pescoço. O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, tinha deixado a região há poucos minutos. Ele afirmou que ogoverno estadual não sabia que a operação aconteceria nesta quarta.
Em nota, a PM afirmou que dois policiais que faziam o apoio à operação foram agredidos por vários moradores de rua, sendo um dos PMs atingido por uma barra de ferro na cabeça. Ainda de acordo com a corporação, um dos policiais fez um único disparo, em direção ao chão, para conter os agressores, sendo que os estilhaços atingiram as vÃtimas.
A polÃcia afirmou que os ferimentos dos dois moradores de rua foram superficiais e apenas um deles precisou de atendimento médico. Um dos policiais também foi encaminhado ao hospital e permanece internado. Um dos PMs envolvidos na ocorrência estava prestando depoimento à PolÃcia Civil no final da tarde.
PRAÇA
Com a remoção da “favelinha” na região da cracolândia, funcionários da prefeitura iniciaram a remoção dos tapumes que cercavam uma praça, construÃda a poucos metros da praça Julio Prestes, que teve a abertura adiadapor conta da concentração de usuários de drogas.
Em entrevista à Folha, realizada nem março, a secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, disse que a administração estava “segurando” a entrega do equipamento, que tem bancos de concreto e espaço para plantas, por causa do avanço do fluxo.
A secretária disse na ocasião, que a construção da praça é uma medida para tentar uma retomada pacÃfica e ordenada do local. “A ideia é fazer uma ocupação boa, para socializar, dar dignidade, com colocação de bancos para as pessoas se sentarem e de sombras”, disse.