Coletivo DAR, em luto +
É com muita tristeza que passamos adiante a notícia que acaba de nos chegar, a da morte da lutadora social e moradora do centro de São Paulo Tina Galvão. O enterro foi hoje, 13 de maio, em Jaú.
Pra quem não sabe, Albertina Galvão, que tinha seus 70 e pouquinhos e acabado de fazer aniversário em 9 de maio, era uma figura sempre presente na organização de ações de solidariedade e ativismo no centro de São Paulo, principalmente envolvendo a população em situação de rua, de quem ela era muito próxima. Tina foi uma das figuras centrais na mobilização contra a operação Dor e Sofrimento de Fernando Kassab em 2012, processo que acarretou em ações como o Churrascão da cracolândia e jogou luz sobre uma população e uma vida que os governos não toleram na Luz.
Tivemos a honra de estar a seu lado também numa festa junina , chamada de “quem pita é quem apita”!, realizada por iniciativa dela na cracolândia em 2013 e em alguns outros momentos, e ela sempre nos transmitiu muitos ensinamentos de disposição, solidariedade e engajamento – não com palavras, mas na prática. Em momentos como os atuais, em que os braços pesados e fechados do prefeito Gilberto Haddad voltam a buscar o simples esmagamento da população de rua frequentadora do centro e usuária de drogas ilícitas – ontem mesmo, 12 de maio, foi dia de mais uma tentativa de massacre promovida pela Guarda Civil Municipal Higienista (GCMH), que três vezes ao dia “acompanha” equipes de limpeza na região – a disposição e os braços verdadeiramente abertos de pessoas como Tina farão muitíssima falta.
Foi-se no dia 13 de maio, data de luta dos debaixo, com quem sempre esteve e pra quem sempre olhou não de cima, mas de igual pra igual. Nos consolam apenas seu exemplo e a certeza da permanência difusa de sua caminhada, agora em outros pés. Nas palavras do argentino Vicente Zito Lema, “ainda que morram os que amam, o amor não cessa”. Paz pra Tina,sua família e amigos. E pra nós que aqui ficaremos como ela gostava, na luta.
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Oriol Vall, que se ocupa dos recém nascidos em um hospital de Barcelona, diz que o primeiro gesto humano é o abraço. Depois da sair ao mundo, no princípio de seus dias, os bebês manoteiam como buscando a alguém. Outros médicos, que se ocupam dos já vividos, dizem que os velhos, ao final de seus dias, morrem querendo alçar os braços. E assim é a coisa. Por muitas voltas que damos ao assunto, por muitas palavras que ponhamos, a isso, assim de simples, se reduz tudo. Entre duas palpitações, sem mais explicação, transcorre a viagem.
El viaje, Eduardo Galeano