COLETIVO DAR
Avenida Paulista, altura do número dois mil. Quase esquina com a Augusta. Quatro anos e dois dias depois da maior repressão a uma Marcha da Maconha no Brasil, São Paulo realizava a maior Marcha da Maconha do Brasil.
A galera foi sentando. Sentando. Algum apressado já soltou sinalizadores de fumaça em verde, amarelo e vermelho.
20, 19, 18.
A polícia tava só lá atrás, segundo eles mesmos querendo “paz e amor”. Aceitaram pela segunda vez o desconvite. Coincidência: claro que não teve violência.
17, 16, 15.
Cada um com seu isqueiro, cada um com sua vela. Em memória dos noss@s mort@s, pela liberdade dos noss@s pres@s. Liberdade pra dentro e pra fora da cabeça.
14, 13, 12.
Se em 2008, ano da primeira Marcha da Maconha em São Paulo, tínhamos nem cem pessoas no parque do Ibirapuera, agora éramos dezenas de milhares. Pra polícia quatro mil – mas quem confia em polícia? Em bloco, em blocos: psicodélico, religioso, medicinal, feminista, LGBT, recreativo, de esquerda, pelo cultivo, dos ciclistas, contra os transgênicos, contra a redução da maioridade, antimanicomial, kaya na gandaya. Tinha índio, tinha anarco, tinha travesti, tinha engravatado. Só não tinha careta!
11, 10, 9.
Teve ainda projeção de dados da guerra às drogas nas paredes da Secretaria Estatual de Segurança Pública e o Bloco Feminista fazendo uma intervenção na Praça do Patriarca, renomeada para Matriarca juntamente com um talento dado na estátua do José Bonifácio, que ganhou uma saia e um baseadão gigante. Como diz o jogral entoado em outro momento, a luta do maconheiro é todo dia, é pela liberdade e não tolera opressões, não tolera machismo ou homofobia. A Marcha da Maconha vai ser toda feminista? Quase que já é!
8, 7, 6.
E se cuida seu racista também, porque a Marcha da Maconha vai ser toda quebradista! Nossas quebradas estão cada vez mais quebradas, dá a letra o Sergio Vaz, e a guerra às drogas é importante nessa. Mas o poeta lembra também que é preciso estar inteiro para consertá-las, por isso no final teve KasDub recebendo Msário, Caiuby, Sombra, Seiva Roxa, 50g e Flora Matos – MÁXIMO RESPEITO! E muito vish vish!
5, 4, 3.
Esse esforço de mudar a cara da Marcha, que tinha fama de ato de playboy doidão mas se esforçou muito pra mudar de cara. A Marcha se pintou de preto, de arco-íris, de batom, e é cada vez mais diversa, mais quebrada. É de usuário, claro, mas não só. Marcha de muitas marchas. Como reconhecido pelo olhar “estrangeiro” da carioca Julita Lungruber no Facebook:
“A Marcha da Maconha em São Paulo é, definitivamente, uma manifestação plural. Foi uma alegria incrível ver todas as tribos juntas, defendendo o fim de uma política insana de guerra às drogas que tem trazido dor pra tanta gente. Estavam lá: gente da periferia, a classe média, os pacientes medicinais (alguns com dificuldade de caminhar, mas firmes ao longo do trajeto), os ativistas, os simpatizantes, velhos, moços, usuários ou não, representantes do movimento LGBT Laerte Coutinho presente), as feministas, os cultivadores, e muito mais. O que mais me emocionou foi ver que a Marcha em São Paulo, claramente, não reúne só moradores de bairros de classe média, como a Marcha no Rio que reúne, basicamente, moradores da zona sul. A garotada da periferia estava lá dizendo presente – são eles que convivem mais de perto com a violência resultante de nossa obtusa política na área das drogas. A faixa de abertura da Marcha dizia tudo: Legalize. Em memória aos nossos mortos”.
2, 1, 0
FOGO!
FOGO!
pow
pow
pow
É contra a corrupção, contra a violência, contra o Estado criminoso. E é também pela liberdade, pela nossa! Ninguém é menos digno por que fuma maconha, e a lei se muda assim, na prática! Espontaneamente, milhares de baseados acesos no meio da principal rua da cidade: acabou o mundo por isso? Claro que não, é só o que todo mundo faz o tempo todo.
Nesse sábado, fumamos a hipocrisia. Agora vamos legalizar a liberdade.