André Michiles
 Em ação durante a Marcha: intervenção na Praça do Patriarca
Elas têm de 18 a 80 anos e começaram o bloco em 2012, depois do episódio de repressão do ano anterior, que levou à s ruas milhares de pessoas contra o abuso policial. Após a mobilização e pressão, a marcha deixou de ser considerada apologia e pôde sair livremente, diferente do que acontecia até então. “Finalmente deixamos de focar nossos esforços no simples direito de falar, para lutar por liberdade”.
O bloco surgiu porque, segundo as ativistas, “as mulheres sentiram a necessidade de tornar explÃcito o diálogo entre feminismo e antiproibicionismo, entendendo que são a mesma luta pela liberdade de nossos corpos e o fim de toda desigualdade”. Foram as primeiras a se organizarem em alas, abrindo espaço para que outros grupos fizessem o mesmo: LGBT, medicinal, do cultivo e dos “ciclosativistas”.
Para elas, “vários aspectos do movimento antiproibicionista, como toda a sociedade, ainda são machistas. É um espaço predominantemente de homens, em que mulheres e LGBTs têm menos voz e por vezes têm seus corpos vistos como objetos, igual em propagandas de cerveja, nos calendários temáticos e concursos de Miss Marijuana“.
André Michiles
A bandeira que a ala das mulheres levanta também recorda o coro contra a proibição do aborto, cantado em movimentos como a Marcha das Vadias (que aconteceu no fim de semana seguinte a da Maconha): Ventre livre e cabeça feita. As duas pautas antiproibicionistas são grandes responsáveis pelo número de mortes e encarceramento de mulheres.
Segundo a Pastoral Carcerária (ação pastoral da Igreja Católica que zela pela dignidade humana nas prisões), o número de mulheres presas por tráfico cresceu 62% de 2007 a 2010. E como a matéria da Tpm #precisamosfalarsobreaborto mostrou: a cada dois dias uma mulher brasileira morre em decorrência de um aborto ilegal.
“A proibição do aborto carrega a mesma hipocrisia que a das drogas: mais uma vez as mulheres pobres, pretas e periféricas sofrem as piores consequências. Morrem ou ficam estéreis todos os dias em decorrência de abortos clandestinos, ou são presas por ousarem decidir sobre seus corpos. Todas nós temos nossos corpos interditados e o prazer assombrado por tabus e opressões patriarcais”, contam.
As ativistas acreditam que a luta é todo dia. Além de se reunirem na preparação da Marcha da Maconha, elas fazem rodas de conversa, oficinas e se encontram durante todo o ano para produzirem o material de divulgação do evento. Elas dizem que essa organização tem surtido efeitos, ao mesmo tempo em que a guerra às drogas mostra, cada vez mais, que não cumpre seu papel.
O grupo diz que o intuito não é afastar os homens da luta. Para elas, “é importante que os homens compreendam o feminismo como uma luta por igualdade e não para inverter uma relação de poder desigual. Ele existe para fortalecer as minas em suas decisões e questionar o por que de não terem tantas mulheres em destaque nos movimentos sociais, assim como em outras esferas da sociedade”.
Com o bloco, elas conseguem aquilo que querem: fazer com que todas as mulheres se sintam incluÃdas no movimento, que nesse ano reuniu cerca de 12 mil pessoas. Quase ao final da marcha, elas tomaram conta da Praça do Patriarca, na região central de São Paulo, para uma invervenção. Uma saia e um baseado foram colocados como ornamento na estátua de José Bonifácio. Em clima de festa, todas gritavam “Se cuida, se cuida, se cuida seu machista! A Marcha da Maconha vai ser toda feminista!”