“Não tenho como provar pra classe médica que funcionou, mas pra mim, que vivi tudo isso na pele, ta muito mais do que provado”
Por Coletivo DAR
No fim do ano passado o estudante João Pedro Canabista, de 20 anos, foi diagnosticado com Linfoma de Hodgkin, um câncer do sistema linfático, e como tratamento lhe propuseram seis meses de quimioterapia, com duas sessões por mês e efeitos colaterais fortes. Essa poderia ser mais uma história de esforço e superação contra uma doença – e é – mas ela tem outro ingrediente, como o apelido de nosso personagem já deixa implícito.
No dia 10 de junho, seis dias antes de completar aniversário, João Pedro divulgou em seu Facebook: “Hoje eu fiz o exame do quarto mês, mas ele não será surpresa porque antes de fazer, eu recebi o resultado do segundo mês, e pasmem: EU ESTOU CURADO FAZ 2 MESES E NÃO SABIA!!! Exatamente, o tratamento convencional era de 6 meses, tomando o Santo Óleo de Cannabis me curei em dois.Infelizmente eu não tenho nenhuma prova cientifica pra comprovar que o óleo matou o câncer, mas eu que passei por tudo isso, vi que a prova está muito mais que dada. MACONHA CURA CÂNCER!”.
Pra saber mais sobre essa história, e entender os detalhes de mais um caso concreto em que a demonizada maconha ajudou a salvar uma vida, conversamos com exclusividade com o João Pedro que, agora curado, pretende cursar Agroecologia, com a intenção de “futuramente estudar essa maravilhosa planta que é a Cannabis!”. “Passo horas estudando sobre ela sem o menor problema, ainda mais depois de tudo que ela fez por mim, não posso deixar de lutar por ela jamais” – nem nós, JP, nem nós! Máximo respeito!
DAR – Como você ficou sabendo que a maconha poderia ajudar no seu tratamento? Quando fez uso medicinal pela primeira vez?
João Pedro – No momento do diagnóstico eu já sabia muito sobre a maconha para diminuir enjoos, aumentar apetite, ajudar a dormir, enfim, quebrar diversos efeitos colaterais da quimio, mas sabia muito pouco sobre ela enquanto uma verdadeira alternativa de cura pro câncer, então comecei a pesquisar muito. Em um momento achei o vídeo “Run From The Cure” do Rick Simpson no youtube, no qual ele relata a cura de diversos tipos de cânceres e outras doenças com o óleo de cannabis, comecei a pesquisar mais e mais, achei muitos estudos comprovando, e resolvi testar. Prontamente arrumei meu primeiro óleo e comecei a tomar, o uso medicinal do baseado se iniciou logo depois da primeira quimio.
DAR – De que forma a maconha te ajudou durante o tratamento?
João Pedro – Bom, o mais visível fisicamente era o uso do baseado, me ajudou demais, combatia enjoos, dores, falta de apetite, insônia, mal estar, me alegrava, ajudava a esquecer a doença e o tratamento. Mas com certeza a ajuda mais importante foi na redução do tempo do tratamento convencional, que como citei anteriormente era pra ser de 6 meses, e tomando o óleo, consegui acabar com o câncer em 2 meses.
O papel do óleo é atacar diretamente as células cancerosas, enquanto protege as células saudáveis, ao contrário da quimioterapia que sai destruindo tudo que tem pela frente. Eu não tenho como comprovar cientificamente que o óleo funcionou, pois eu teria que abandonar o tratamento convencional, e como eu fiz tudo pelo SUS eu tinha que seguir a regra deles, não tinha como pedir pra me deixarem só tomando o óleo e ficar fazendo exames pra ver como o câncer reagia. Então se eu quisesse brincar, tinha que seguir o mestre SUS, como eu não quis arriscar minha vida ficando sem nenhum acompanhamento médico, eu optei por fazer os dois tratamentos conjuntos.
Mas o que garantiu pra mim que funcionou foi que eu comecei a tomar o óleo um mês antes de iniciar a quimio, e nesse tempo eu tinha um caroço bem grande no meu pescoço, que com esse mês de óleo reduziu quase pela metade, tirando o fato da redução para 1/3 do tempo do tratamento convencional. Não tenho como provar pra classe médica que funcionou, mas pra mim, que vivi tudo isso na pele, ta muito mais do que provado.
DAR “ Você podia falar sobre a solidariedade que você também comentou no Face, como foi o apoio que você recebeu? Veio de ativistas, de outros pacientes, de amigos, como foi isso? Acha que esse tipo de trabalho de solidariedade e também de divulgação pode ajudar outras pessoas que talvez tenham problemas para os quais a maconha é útil e não sabem ou têm preconceito?
JP – A solidariedade foi uma coisa insana, provando como maconheiro é gente boa, muitas pessoas que plantavam para outros fins, como recreativo, separaram parte de suas colheitas para me doar, sendo que várias delas nem me conheciam, com essas doações eu produzi óleo, e também recebi doações de óleo pronto da Rede secreta do Rio de Janeiro, que é uma galera que se arrisca cultivando maconha pra produzir o óleo e enviar sem custo nenhum pra várias pessoas necessitadas.
Com certeza a solidariedade e divulgação é útil demais, muitas pessoas vieram me perguntar sobre o óleo para eles mesmos, mas principalmente para parentes, que se não fosse dessa forma, nem saberiam sobre o potencial da maconha, e esse trampo de divulgação e de quebrar o tabu sobre isso em casa é importantíssimo pra que mais gente acesse a cura.
DAR – Você conviveu com outras pessoas que têm ou tiveram câncer nesse processo? acredita que ainda há preconceito com ter que recorrer a uma “droga” ou as coisas têm mudado? E entre os médicos, como foram os papos sobre maconha?
JP – Conheci muitas pessoas com câncer no hospital, tirando eu, ninguém lá era usuário de cannabis que eu saiba, acho que tem um certo preconceito, mas talvez mais por desconhecimento. Com os médicos, eu contei para vários, nenhum foi contra, mas acho que nenhum acreditou que funcionaria, só pediram pra eu ter os cuidados de higiene com a seringa e fim. Cheguei a dar umas aulas lá, porque não saber que maconha pode curar câncer tudo bem, é uma ideia meio recente que ta surgindo, mas médico não saber que maconha funciona maravilhosamente como antiemético, sem efeitos colaterais como os outros remédios que eles dão no lugar dessa planta, ai é muita ignorância mesmo, ficar fechado no que os professores da faculdade falam e pronto.
DAR – Como você, tendo passado por tudo isso, se sente diante de declarações de personalidades reacionárias como o deputado Osmar Terra ou o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que contestam o uso medicinal de maconha e dizem que isso é tudo desculpa de maconheiro querendo legalizar? Basicamente esses caras tão dizendo que você e os outros pacientes, crianças até, não existem!
JP- Eu chego a me sentir ofendido, não é possível que esses caras pensem isso, é querer ignorar completamente a realidade, estudos científicos, e até mesmo a história da humanidade, é só questão de estudar, é muito fácil. Acho que no caso deles há certos interesses que chegam a ser desumanos, negando medicamento para quem precisa, ridículo…
DAR – A Anvisa recentemente liberou a importação de alguns derivados de canábis, o que mais você que deveria ser feito para regular o acesso à maconha medicinal?
JP – A liberação do CBD ta longe de ser o que nós precisamos, é claro que é um bom passo, afinal é um remédio que funciona para muitas crianças que não podem ficar esperando correndo risco de vida todos os dias. Mas para o meu caso e incontáveis outras doenças isso não é suficiente, precisamos do extrato completo da planta, natural, com todos os seus canabinoides, terpenos, flavonoides, e tudo de medicinal que há nela, só 1 componente dos mais de 400 não resolve. Eu vejo que o caminho é lutarmos para a legalização do cultivo caseiro e cooperativas de cultivo, porque também não quero ficar na mão de uma empresa que vai fazer uma plantação enorme, e me vender algo que não sei nada sobre o processo produtivo, como a planta foi tratada, etc etc etc, prefiro poder ter minhas plantinhas em casa e produzir meu próprio remédio.
Muita gente só considera o que está numa seringa como remédio, mas se esquecem que a planta in natura também é extremamente importante, eu preciso fumar pra aguentar passar pelas quimios, e com o passar das sessões cada quimioterapia vai ficando mais pesada e difícil de aguentar do que as anteriores. No começo que qualquer baseado com 5 tragos aliviava completamente o meu enjoo, no final já não era mais tão fácil, e o que me fez falta foi a variabilidade genética, pois pra quem não sabe, não existe só UMA maconha, existem milhares de plantas diferentes, e as que são mais eficientes para combater enjoo, ajudar a dormir, etc, são as variedades com uma genética mais indica. Se o acesso a maconha medicinal fosse regulado, eu poderia ter acesso a essas plantas especificas e teria me ajudado muito mais do que ja ajudou.
DAR “ E em relação à legalização da maconha para outros fins que não medicinais, qual sua opinião?
JP – Eu defendo a ampla legalização da maconha, acho que ela deveria ser tratada como qualquer outra planta, com a qual podemos fazer magníficos usos medicinais, como a babosa por exemplo, outra planta fantástica. Luto pela liberdade medicinal, recreativa, industrial e religiosa.
A grande birra da sociedade com o uso recreativo está na “pureza” do corpo, não se sujar com drogas, eles só se esquecem que o cafézinho que bebem pela manhã entupido de açúcar já são duas drogas ingeridas ao mesmo tempo, drogas que alteram nossas percepções, assim como a maconha, esquecem que nos envenenamos com comidas industrializadas, refrigerantes, e até com o ar que respiramos andando no meio da cidade. E se esquecem principalmente que se eu optei por andar na cidade, se eu optei fumar um cigarro, não precisa vir ninguém me prender, estou causando danos estritamente a mim, e não é diferente com a maconha, se eu estou causando dano (se é que existe algum) é somente a mim, não a ninguém mais, então por favor, não venham me prender por isso!