COLETIVO DAR
(+ CHAME O DAR PRA SUA ESCOLA OU QUEBRADA)
Terça-feira, 13 de Outubro. A convite do educador do Albergue “Casa São Lázaro”, localizado no Brás, região central de São Paulo, o coletivo DAR realizou mais uma de suas atividades de formação onde nos propomos a falar dos temas relacionados às nossas lutas.
Sendo o público do Albergue constituído principalmente por população em situação de rua, que apresenta usos específicos de drogas, o foco foi tratar indiscriminadamente de todas as substâncias e apontar as incoerências do sistema falido do proibicionismo, que só serviu e continua servindo como justificativa para a guerra contra os pobres, sendo que os ricos fazem uso do que bem entendem quase sem sofrer consequências enquanto os outros pagam caro pelo estigma de viciado e suas terríveis consequências ou, pior, são exterminados em “autos de resistência” pela polícia higienista, em nome da guerra ao tráfico.
Tentamos mostrar, também, o quanto as divisões internas nesse grupo, muitas vezes motivadas pela droga de escolha, são reproduções do mesmo discurso proibicionista e que só gera rachas que dificultam a organização popular na luta pelos direitos, sendo todos convocados à desconstrução da falácia institucional e à auto-organização!
O papo foi direto e reto e, obviamente, o debate esquentou e boa parte das 30 pessoas presentes participaram ativamente da discussão, mostrando o quanto esse debate deve ser feito, não importa onde e nem com quem, já que dissimular é jogar a sujeita pra baixo do tapete, como bem ressaltou um dos participantes, que afirmou não ser esse um debate comum e feito às claras.
Não deixamos de ser questionados quanto à nossa postura, já que pra muitos o tema do vício é crítico nesse espaço e alguns vêem nas drogas um mal a ser combatido, postura que mostramos nos opor. Por um lado pelas implicações de não se fazer combate às substâncias, em si inofensivas, mas, como já tratado anteriormente, às pessoas que delas fazem uso à partir de critérios altamente relativos e que só reproduzem um estado altamente excludente; por outro lado, na questão do uso problemático, ou abusivo, ressaltando o direito da própria pessoa de julgar o que considera abusivo e, à partir daí, dando ênfase às políticas de redução de danos e mostrando o quanto a proibição e mascaramento do problema criam mais complicações.
E por que mais complicações? Primeiro por que nas políticas públicas ele permanece como questão de um sistema policial, altamente corrompido, e de um sistema carcerário falido, onde ninguém é recuperado, sendo que deveria ser tratado como questão de saúde, com aparatos institucionais para amparar as pessoas ao invés de afundá-las mais. O segundo ponto foi o da própria cooperação entre as pessoas, uma vez que retirando o peso da questão, torna-se mais humano o dialogo, ajudando com que a pessoa se reintegre muito mais facilmente à sociedade e, uma vez reintegrada, possa contar com o outros em projetos, organização e lutas que lhe ajudem a se afastar mesmo do problema.
As participações dos presentes reforçou em grande medida o que foi levado pelo DAR e parece que grande parte das pessoas, nós inclusos, saímos com a certeza de que a guerra às drogas é uma guerra perdida e que somente o amparo às pessoas em dificuldade e a inserção delas em lutas que as façam sentido é o caminho para uma relação mais saudável com as drogas e esse mundão louco que as cerca.