A indicação de um policial para dirigir a secretaria de drogas do paÃs vem gerando crÃticas de grupos sociais ligados ao assunto. Para essas entidades, a medida pode provocar um retrocesso, uma vez que a questão vinha sendo abordada de um ponto de vista mais humanitário, de tratar o uso de entorpecentes como uma questão de saúde, sem repressão policial. Uma petição na internet reúne quase 800 assinaturas contra a indicação.
Os caminhos de Moraes e Alegretti se cruzaram em 2002. O coronel fez carreira na PolÃcia Militar, era o secretário da Casa Militar do Governo de São Paulo quando o jovem Alexandre de Moraes deixou o Ministério Público e assumiu a Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania no governo Alckmin.
Seis anos depois, na Prefeitura de São Paulo, Moraes assumiu a secretaria de Transportes e indicou o coronel para comandar o Departamento de Transportes Públicos da cidade. Em 2009, foi a vez de Allegretti assumir a diretoria de Administração e Finanças da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da cidade. Deixou a função quando Moraes rompeu com o prefeito Gilberto Kassab e deixou o governo. O atual ministro da Justiça também atuou como advogado de Allegretti.
Dentro da corporação, o coronel é visto como um policial sério, de pouco riso, mas sereno, distante do setor linha-dura da PolÃcia Militar.
– Nunca compactuou com a polÃcia mais repressiva. É completamente diferente do perfil, do preconceito ou dos estereótipos – afirma José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública no governo Fernando Henrique e ex-professor de Allegretti na Academia da PolÃcia Militar.
Até mesmo especialistas da área, como Leonardo Pinho, diretor da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e do Conselho Nacional de Direitos Humanos, afirmam que Allegretti tem um perfil de diálogo. Formado em psicologia, no entanto, o coronel não tem uma trajetória ligada à polÃtica de drogas, mas um perfil burocrático. Na PolÃcia Militar, chegou à secretaria da Casa Militar após ser chefe de gabinete do comandante-geral.
Após deixar a corporação, assumiu a presidência da Associação Fundo de AuxÃlio Mútuo dos Militares do Estado de São Paulo (Afam) em 2007, cargo que ocupa até hoje. Sem fins lucrativos, o fundo presta aos associados, policiais na reserva ou na ativa, serviços nas áreas educacional, de saúde e jurÃdica.
– Ele é daquele setor que propõe diálogo e reconhece os direitos humanos. O problema é que ele é um coronel. É a visão de que os órgãos de segurança pública devem dar as diretrizes da polÃtica de drogas – descreve Leonardo Pinho, à frente de uma entidade que lançou uma moção de repúdio à nomeação de Allegretti.
Segundo Pinho, a tendência internacional da área são campanhas de redução de danos e a promoção de direitos aos usuários abusivos, como saúde e trabalho. Entre as polÃticas de sucesso, cita o programa Braços Abertos, da Prefeitura de São Paulo e liderado pela secretária de Assistência Social da cidade, Luciana Temer, filha do presidente interino. A nomeação de Allegretti iria na contra-mão dessa tendência, segundo Pinho.
– O governo vai entrar na contra-mão de uma polÃtica que vem dando certo. Não quer dizer que não tenha erros, mas que sinalizou que deu certo. Hoje, o Ãndice de adesão ao tratamento é de mais de 70%. Isso, em polÃtica de drogas, é um sucesso absoluto.