Parodiando aquele novo ditado popular, sexta-feira é dia de novidade. Nesta última, dia 21/10, a fumaça tomou conta do Al Janiah para o lançamento do livro Dichavando o poder: drogas e autonomia (compre aqui), produção do Coletivo DAR e parceiros que discute a legalização das drogas para além das estruturas do Estado e do mercado.
Mesmo com a informalidade característica de uma noite de sexta, o espaço abrigou uma breve discussão dos autores sobre a obra recém-lançada, que transformou o agradável ambiente do Al Janiah em um vai e vem imparável de amigos e simpatizantes do antiproibicionismo em busca do seu exemplar – instigados assim provavelmente pela seda grátis que o livro traz com ele.
Ilana Mountian falou sobre o reflexo que a proibição das drogas gera nas questões de gênero e raça. “É um regulamento feito visando o controle de corpos de determinados grupos sociais.” A epidemia do uso de crack é utilizada pela mídia para criar um ambiente de pânico moral, de acordo com Isa Bentes. “Na minha estante, este livro estará eternizado ao lado de outros que descrevem os horrores de nossos tempos.”
Para Thamires Sarti, a obra traduz um exercício de utilizar o conhecimento acadêmico para buscar a transformação política. “Pensar no mundo que queremos é pensar na nossa pratica política atual. O proibicionismo vai além da questão legislativa – está nos costumes, no cotidiano. A desconstrução da perversidade construída em cima do que é ser um usuário de drogas, principalmente das mulheres, é urgente.”
Henrique Carneiro acredita que o livro é uma “contribuição inestimável da expressão do movimento social”. Ele citou as Marchas da Maconha que estão conquistando os espaços públicos de diversas cidades brasileiras, criando um avanço na consciência pública sobre a necessidade da legalização das drogas.
“O DAR é meu grilo falante revolucionário e anarquista”, revelou Maurício Fiore. “O desprendimento de ser um livro coletivo nos leva para outro lugar neste debate. Ele celebra essa vontade e desejo de mudança que o coletivo tem em todo seu caminho.”
Não faltou cerveja para os sedentos, nem falafel para os famintos. Após o debate, o Al Janiah presenciou um momento histórico: a apresentação inesperada das Canções de Drogas, brilhantes pérolas da música brasileira entoadas nas versões de usuários de todas as drogas possíveis e imagináveis. Quem viu, viveu.
Ao longo da noite, a pista foi esquentando, as rodas foram crescendo, sintéticos e químicos apareceram pra abrilhantar ainda mais o rolê. Enfim, uma clara demonstração de que a legalização de tudo nos trará – muito além dos benefícios sociais tão esperados – momentos de pura alegria e ousadia. Como disse o mestre: “devemos sempre repor a seda do livro – para manter a chama acesa!”