Por Daniel Mello*
Neste bairro estão situados o Jardim da Luz, a Estação da Luz, a estação de Metrô Luz, a Estação Júlio Prestes (Sala São Paulo), o Museu da Língua Portuguesa, o Mosteiro da Luz, o anexo Museu de Arte Sacra de São Paulo e a Pinacoteca de São Paulo, Estação Pinacoteca (antigo DOPS) em frente à Igreja de São Cristovão.
Abriga em seus limites parte da zona conhecida como Cracolândia, logo na divisa com o bairro dos Campos Elíseos. Wikipedia – 13/12/2020
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Quando olho as fotos desses anos, vejo os prédios em construção. Apontei a câmera pensando nas pessoas. Os edifícios nos cercaram, cupins em madeira sem verniz. Cada bloco de concreto pesa como dinamite, cal virgem sobre a pele. Porque são assim, agora, os prédios, erguidos em blocos de concreto. Não mais sobem ao tempo do suor honesto que escorre nas costas exploradas dos operários. As paredes vêm em caminhões noturnos. Pela manhã, não é mais possível ver o sol. Da vista, nem um beco por onde espremer duas gotas de chuva.
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Três pessoas dividiam o mesmo guarda-chuva.
– Eram homens ou mulheres?
– Dessa distância não me lembro da diferença.
Os relâmpagos faziam arco-iris no granizo. Mesmo assim, os guardas mandaram baixar as lonas e eles mesmos baixaram o cacete assim que viram a pele exposta. Juraram defender a marquise. A estação é de 1938 e o mijo é renovado a cada três horas – as pedras portuguesas não amarelam. Se não soubessem o que é um tesouro, não usariam capacete. As mãos se entrelaçam no cabo. Agarradas, não se afogaram, apesar dos pulmões queimarem.
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Helvetia
Uma rua existe com um nome. A esquina floresce por apelido. Tudo morre nos números: quadra 37, 38 e 39. Cavaram um buraco e não foi nem, pelo menos, um cemitério.
* Daniel Mello é jornalista, documentarista e poeta. Faz parte d’A Craco Resiste.