Escrito especialmente para o site bialabate.net (1)
Por Rafael Guimarães dos Santos (2)
– “A DMT atua nos sistemas cerebrais reguladores da produção e absorção, pelos neurônios, de serotonina, dopamina e noradrenalinaâ€. Embora existam estudos demonstrando que a DMT pode atuar nos sistemas dopaminérgico, colinérgico, adrenérgico e noradrenérgico (Haubrich & Wang, 1977; Waldmeier & Maître, 1977; Jenner et al., 1978, 1980; Pierce & Peroutka, 1989, citado em Riba, 2003; ver também Barker et al., 1981), a DMT parece atuar principalmente no sistema serotoninérgico (ver Riba, 2003, para uma revisão);
– “Seu feito é imediato (….) dura de quatro a oito horasâ€: seu efeito dura de trinta a sessenta minutos para se fazer sentir; uma única dose não dura oito horas, mas sim por volta de quatro horas (Riba et al., 2001);
– “Ao ser ingerida, provoca grande alteração nos sistemas da serotoninaâ€: aúnica evidência cientÃfica disponÃvel apenas indica que as substâncias presentes na ayahuasca, especialmente a DMT, atuam nos receptores serotoninérgios. Mesmo assim, não existem estudos em seres humanos sobre isto (ver Riba, 2003, para uma revisão);
– “A ação da harmina potencializa o efeito da DMTâ€: esta informação está equivocada. A enzima MAO degrada a DMT quando está é ingerida por via oral. No entanto, a harmina, por meio de sua ação como um inibidor da enzima MAO, permite que a DMT chegue ao cérebro. Além disso, a ação da harmina também permite que a DMT atue por mais tempo, já que a enzima MAO está inibida (ver Riba, 2003, para uma revisão);
– “Pessoas com algum distúrbio psiquiátrico (esquizofrenia, transtorno bipolar por exemplo), podem ter problemas agravadosâ€: não há dados cientÃficos que comprovem esta afirmação em relação a transtornos bipolares; para o caso da esquizofrenia, ver Santos & Strassman (2009).
– “Há chances de ocorrências de crises e de os pacientes ficarem em permanente estado de alucinaçãoâ€. O mais correto seria dizer: “estado prolongado de alucinação†(ver Santos & Strassman, 2009);
– “O uso por gestantes é perigoso (…) modificações neurológicas nos fetos (….) pelo mesmo motivo não deveria ser consumido pelas criançasâ€: não existem dados cientÃficos que comprem tais afirmações. Os estudos realizados em adolescentes da UDV não encontraram nenhuma evidência de danos neuropsicológicos ou psiquiátrios. Alguns dos adolescentes tomavam a ayahuasca desde crianças, e alguns deles desde que estava na condição de fetos (Da Silveira et al., 2005; Doering-Silveira et al., 2005).
Notas:
(1) Hélio Gomes. “As Encruzilhadas do Daimeâ€, Revista Isto É, 5 de fevereiro de 2010. Ver: http://www.istoe.com.br/reportagens/48304_A+ENCRUZILHADA+DO+DAIME+PARTE+1?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
(2) Biólogo, Doutorando em Farmacologia pela Universidade Autônoma de Barcelona, co-autor de um livro sobre a ayahuasca e pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplianres sobre Psicoativos – NEIP (ver: http://www.neip.info/index.php/content/view/83.html).
Bibliografia:
BARKER, S.A., MONTI, J.A. & CHRISTIAN, S.T. N,N-dimethyltryptamine: an endogenous hallucinogen. International Review of Neurobiology, 22: 83-110. 1981.
DA SILVEIRA, D.X., GROB, C.S., DOBKIN DE RIOS, M., LOPEZ, E., ALONSO, L.K., TACLA, C. & DOERING-SILVEIRA, E. Ayahuasca in adolescence: a preliminary psychiatric assessment. Journal of Psychoactive Drugs, 37 (2): 129-133. 2005.
DOERING-SILVEIRA, E., LOPEZ, E., GROB, C.S., DOBKIN DE RIOS, M., ALONSO, L.K., TACLA, C., SHIRAKAWA, I., BERTOLUCCI, P.H. & DA SILVEIRA, D.X. Ayahuasca in adolescence: a neuropsychological assessment. Journal of Psychoactive Drugs, 37 (2): 123-128. 2005.
HAUBRICH, D.R. & WANG, P.F.L. N’N-dimethyltryptamine lowers rat brain acetylcholine and dopamine. Brain Research, 131 (1): 158-161. 1977.
JENNER, P., MARSDEN, C.D. & THANKI, C.M. Behavioural changes induced by N,N-dimethyltryptamine in rodents [proceedings]. British Journal of Pharmacology, 63 (2): 380P. 1978.
JENNER, P., MARSDEN, C.D. & THANKI, C.M. Behavioural changes induced by N,N-dimethyltryptamine in rodents. British Journal of Pharmacology, 69 (1): 69-80. 1980.
RIBA, J. Human Pharmacology of Ayahuasca. Doctoral Thesis: Universitat Autònoma de Barcelona, 2003.
RIBA, J., RODRIGUEZ–FORNELLS, A., URBANO, G., MORTE, A., ANTONIJOAN, R., MONTEIRO, M., CALLAWAY, J.C. & BARBANOJ, M.J. Subjective effects and tolerability of the South American psychoactive beverage Ayahuasca in healthy volunteers. Psychopharmacology (Berl), 154 (1): 85-95. 2001.
SANTOS, R.G. & STRASSMAN, R.J. Ayahuasca and Psychosis (eLetter). British Journal of Psychiatry (online), 3 December 2008. http://bjp.rcpsych.org/cgi/eletters/190/1/81-a#22556.
WALDMEIER, P.C. & MAÃŽTRE, L. Neurochemical investigations of the interaction of N,N-dimethyltryptamine with dopaminergic system in rat brain. Psychopharmacology (Berl), 52 (2): 137-144. 1977.