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Novembro 14, 2016

A (não) representatividade preta na Marcha da Maconha de São Paulo

por Juliana Paula (Coletivo DAR)

Estou ligada à luta da rua pela legalização de todas as drogas de maneira mais direta desde 2013, quando comecei minha atuação profissional num CAPS-AD. Até aí eu já era maconheira, já era pró-legalização, mas meu envolvimento político-ideológico estava relacionado a outras frentes.

Acompanhei a evolução da Marcha da Maconha e de muitos outros movimentos e lutas à distância e participei da Marcha SP pela primeira vez em 2014, três anos após a Marcha ser legalizada em solo nacional. Esta Marcha foi a primeira em que não houve detidas nem detidos. Eu estive lá, sozinha, me sentindo diferente da maioria, mas eu fui. Gostei. E voltei.

Nesses anos que se passaram me envolvi mais diretamente na militância antiproibicionista e, recentemente, comecei a participar do Coletivo DAR e do Bloco Feminista da Marcha da Maconha.

Porém, tem um bloco do qual ainda não consegui participar: o Bloco das Pretas e Pretos da Perifa na Marcha da Maconha. Eu não consegui incorporar também o Bloco do Povo de Matriz Africana na Marcha da Maconha, tampouco o Bloco da Juventude Preta e Periférica da Marcha da Maconha.

O motivo: esses blocos não existem.

Por essa vasta internet eu busquei vídeos e fotos das Marchas da Maconha, de movimentos e ativistas a dar entrevistas, de grupos simpatizantes, de causas das mais diversas ligadas à questão da legalização. Bem poucas pessoas pretas apareceram nesses vídeos e fotos, onde geralmente figuravam pessoas que compõem a organização da Marcha.

O mote da Marcha de São Paulo deste ano: fogo na bomba e paz na quebrada, se a gente se unir a guerra às drogas vai cair! Tem muito a nos dizer sobre o quanto essa luta é das pretas e pretos, pessoas de periferia e do quanto todo mundo tem que estar junto nessa. Uma luta que defende o direito de viver livremente daquelas pessoas. Sim, porque na perifa a questão não é poder fumar a nossa erva, na perifa a questão é de liberdade ou cadeia, de vida ou morte.

A guerra às drogas é contra as pretas e pretos da periferia. A maconha já está legalizada há muito tempo. Crédito: João Paulo Teco

A guerra às drogas é contra as pretas e pretos da periferia. A maconha já está legalizada há muito tempo. Crédito: João Paulo Teco

Eu dei uma entrevista também durante a Marcha SP deste ano, e quando me perguntaram o porquê da legalização, respondi sem pestanejar: “porque a guerra às drogas é contra as pretas e pretos da periferia, a maconha já está legalizada há muito tempo”. Cá estamos, nesse lugar comum.

É possível verificar um crescimento da presença de pessoas da periferia, pretas ou não, nos últimos anos da Marcha, mas se isso é visto em crescimento nas ruas, pouco tem evoluído quando se trata dos grupos envolvidos na organização da Marcha, tampouco se verifica nos componentes dos diversos grupos ligados à questão do antiproibiconismo em São Paulo.

Desde o início dos anos 2000 fala-se da guerra às drogas como estratégia racista de criminalização da pobreza de maneira contundente. Já reconhecemos e percebemos que é disso que estamos falando prioritariamente, quando falamos desta guerra e dos muitos entraves colocados à legalização.

Pelo que observei nos últimos anos a Marcha tem se estendido até a periferia, tem realizado eventos e chamado a perifa pra roda. Mas por que ainda estamos tão longe de poder chamar essa Marcha, que luta pelo direito à vida das pretas e pretos, de uma Marcha Preta? Por que ainda não temos os blocos que mencionei acima na nossa Marcha?

Por que ainda estamos tão longe de poder chamar essa Marcha de uma Marcha Preta? Crédito: Sebastián Gadea

Por que ainda estamos tão longe de poder chamar essa Marcha de uma Marcha Preta? Crédito: Sebastián Gadea

A Marcha, desde quando começou e muito ainda nos dias de hoje, é tida como um movimento de gente branca burguesa que quer fumar na Paulista. Infelizmente essa imagem se constitui com base histórica: a luta pela legalização começa pelas pessoas da academia e da erudição, artistas e intelectuais, a luta começa no chão das universidades públicas e esse nunca foi o habitat natural das pretas e pretos da periferia. Como diz o poeta, essas pessoas são “temas da faculdade, em que não podem pôr os pés”. Hoje temos um aumento significativo da presença de pretas e pretos na universidade, mas estar lá não é ser igual, tampouco pertencer. A faculdade ainda é terra de pessoas brancas e, também por isso, a militância acaba sendo um terreno hostil.

Eu sou preta e acadêmica, mas não estudei numa universidade pública. Não porque não tivesse vontade, capacidade ou possibilidades (poucas, mas tinha). Eu estudei numa universidade particular com bolsa do Pro Uni porque, na minha conjuntura familiar, não dava pra parar de trabalhar (num emprego público) pra estudar psicologia em período integral. A questão é que a juventude preta e periférica está sempre tão acachapada de trampo e preocupação da vida (lutar pra não morrer ocupa bastante), que acaba não se sentindo com tempo pra se envolver em militância político-ideológica.

Não quero com isso pintar um povo preto que precisa de sua compaixão, muito pelo contrário. Preto não tem preguiça de lutar! Meu povo é só raça e luta, há muitos séculos, somos rainhas e reis muito antes de termos sido seus escravos. O que quero é dizer do quanto de empatia e transformação que ainda se carece para que a luta, que é tão nossa, possa ser legitimada em nossas próprias mãos e voz pretas.

Precisamos pensar e agir com urgência para que a Marcha da Maconha não fale mais de nós sem nós.

Pretas e pretos da perifa, presentes!

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